O que é educação? Para que serve a escola? Qual a função ontológica do professor? Quando o assunto é educação, pelo que se luta? Que conceito de qualidade está sendo demarcado? Se o Estado é o "gestor dos interesses da burguesia" temos o mesmo alinhamento para a educação que estes?
Perguntas que parecem simples não ocupam, quase nunca, o debate em torno da luta em defesa da educação dos filhos da classe trabalhadora. Educação ganhou esfera tão abstrata que hoje qualquer coisa ganha status de educação, mas e a educação escolar, iremos defini-la?
(...) cada trimestre de aprendizagem perdida, considerando estudantes do 1º ao 12º ano, provocaria perda de 3% na renda por toda a vida profissional. Isso, segundo os economistas, representa um custo de longo prazo que varia de US$ 504 bilhões na África do Sul a US$ 14,2 trilhões nos Estados Unidos, a cada três meses de aprendizagem perdidos (PINTO, 2021, p. 3- 4)
A escola capitalista sustenta, incorpora e tem por bandeira o discurso de educação para formação do indivíduo, buscando criticar e até invalidar a escola revolucionária, marxista, que defende uma educação com vistas ao avanço coletivo do sujeito enquanto ser social. O excerto acima diz respeito ao relatório da OCDE no trato das políticas de retorno presencial em tons de urgência, mesmo sem qualquer política de controle da pandemia da COVID-19. Tal fragmento fora escrito antes mesmo de a vacina ser realidade e até mesmo uma possibilidade, ou seja, não havia no horizonte qualquer cenário de contenção do vírus, de diminuição das mortes e de controle mínimo que fosse do caos instaurado pela pandemia. Havia uma preocupação colossal com a economia individual dos alunos e de maneira geral a economia dos países. Sem esconder que a maior preocupação em torno da escola da classe trabalhadora reside no fato de esta formar para os interesses do mercado. E um mercado que é fluído, instável e mutante. O que não se configura novidade quando o assunto são políticas de educação para a classe trabalhadora. É essa a relação educação-economia, embora haja muita ingenuidade ainda no seio da sociedade, acreditando num projeto de educação salvadora. Retomemos, portanto ao século XVII quando Comênio defendeu na "Didática Magna" o "Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos" sem exceções, nos anos da puberdade independente se meninos ou meninas. A burguesia, no entanto trata de repensar, ou ignorar a carta, seguindo os parâmetros educacionais ditados por Mandeville¹ em que ele afirma:
"o saber ler, escrever e conhecer a aritmética consistem em artes muito nocivas para o pobre obrigado a ganhar o pão de cada dia mediante sua faina diária, o que significa que cada hora que esses infelizes dedicam aos livros é outro tanto de tempo perdido para a sociedade e nenhum reino necessita de maior rigor na supressão total do ensino de ler e escrever do que o reino português."
Numa coisa temos que concordar: a classe burguesa sabe como não dar o peixe e simular o ensinar a pescar após fazer secar todos os rios e quebrar as varas, destruir o barcos e as redes, pois, de fato hoje existem escolas para todos, ao menos no discurso, e um número cada vez mais crescente de estudantes têm acessado à escola pública, o que não se pode dizer é que tais estudantes tenham acesso aos conhecimentos defendidos por Comênio, para essa instituição, aliás, como exposto tanto na citação que abre este texto, referindo-se a esta fase atual (pandemia), quanto na escrita no século XVII pelas penas de Mandeville, a educação/conhecimento precisa estar a serviço da economia. A escola, portanto reduziu-se ao meros rudimentos da leitura, escrita e cálculos matemáticos simples. Com as recentes normativas a escola precisa cuidar preponderantemente do comportamento, do socioafetivo dos alunos. Aliás os conteúdos socioafetivos que já estavam implícitos nos currículos escolares como o aprender a conviver, aprender a ser, hoje escancara tanto normatizado pela BNCC como discurso efervescente na elaboração do pós covid-19. Atualmente, o mais importante na educação escolar é o trato da saúde mental dos alunos e dos professores, ao menos no campo do discurso, já que no campo da prática o que temos é a culpabilização do professor e da escola pelo baixo rendimento dos alunos nas provas internacionais/externas, numa escola que prepara exclusivamente para o mercado (nem mais o do trabalho, mas o do desemprego), a escola que um dia afirmou preparar para o trabalho, atualmente se mostra claramente preparando para ocupar uma fila de desempregados, os que alcançam um posto de trabalho, são os que furam a bolha, ou os que advém de classes num estrato dr exploração diferenciada. Aos demais a sorte se lança sob a alcunha de empreendedorismo. Numa classe tão alijada das necessidades imediatas a questão que se coloca, para além da falta de conhecimentos científicos dos quais ficarão à margem é empreender a partir do quê? Quais instrumentos terão para tanto? É um salve-se quem puder, ou como dito na atualidade: "vocês que lutem!"
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