domingo, 9 de outubro de 2022

Todos Pela Educação: Que luta se constrói no horizonte?

 

 O que é educação? Para que serve a escola? Qual a função ontológica do professor? Quando o assunto é educação, pelo que se luta? Que conceito de qualidade está sendo demarcado? Se o Estado é o "gestor dos interesses da burguesia" temos o mesmo alinhamento para a educação que estes?

Perguntas que parecem simples não ocupam, quase nunca, o debate em torno da luta em defesa da educação dos filhos da classe trabalhadora. Educação ganhou esfera tão abstrata que hoje qualquer coisa ganha status de educação, mas e a educação escolar, iremos defini-la? 

(...) cada trimestre de aprendizagem perdida, considerando estudantes do 1º ao 12º ano, provocaria perda de 3% na renda por toda a vida profissional. Isso, segundo os economistas, representa um custo de longo prazo que varia de US$ 504 bilhões na África do Sul a US$ 14,2 trilhões nos Estados Unidos, a cada três meses de aprendizagem perdidos (PINTO, 2021, p. 3- 4)

A escola capitalista sustenta, incorpora e tem por bandeira o discurso de educação para formação do indivíduo, buscando criticar e até invalidar a escola revolucionária, marxista, que defende uma  educação com vistas ao avanço coletivo do sujeito enquanto ser social. O excerto acima diz respeito ao relatório da OCDE no trato das políticas de retorno presencial em tons de urgência, mesmo sem qualquer política de controle da pandemia da COVID-19. Tal fragmento fora escrito antes mesmo de a vacina ser realidade e até mesmo uma possibilidade, ou seja, não havia no horizonte qualquer cenário de contenção do vírus, de diminuição das mortes e de controle mínimo que fosse do caos instaurado pela pandemia. Havia uma preocupação colossal com a economia individual dos alunos e de maneira geral a economia dos países. Sem esconder que a maior preocupação em torno da escola da classe trabalhadora reside no fato de esta formar para os interesses do mercado. E um mercado que é fluído, instável e mutante. O que não se configura novidade quando o assunto são políticas de educação para a classe trabalhadora. É essa a relação educação-economia, embora haja muita ingenuidade ainda no seio da sociedade, acreditando num projeto de educação salvadora. Retomemos, portanto ao século XVII quando Comênio defendeu na "Didática Magna" o "Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos" sem exceções, nos anos da puberdade independente se meninos ou meninas. A burguesia, no entanto trata de repensar, ou ignorar a carta, seguindo os parâmetros educacionais ditados por Mandeville¹ em que ele afirma:

"o saber ler, escrever e conhecer a aritmética consistem em artes muito nocivas para o pobre obrigado a ganhar o pão de cada dia mediante sua faina diária, o que significa que cada hora que esses infelizes dedicam aos livros é outro tanto de tempo perdido para a sociedade e nenhum reino necessita de maior rigor na supressão total do ensino de ler e escrever do que o reino português."

Numa coisa temos que concordar: a classe burguesa sabe como não dar o peixe e simular o ensinar a pescar após fazer secar todos os rios e quebrar as varas, destruir o barcos e as redes, pois, de fato hoje existem escolas para todos, ao menos no discurso, e um número cada vez mais crescente de estudantes têm acessado à escola pública, o que não se pode dizer é que tais estudantes tenham acesso aos conhecimentos defendidos por Comênio, para essa instituição, aliás, como exposto tanto na citação que abre este texto, referindo-se a esta fase atual (pandemia), quanto na escrita no século XVII pelas penas de Mandeville, a educação/conhecimento precisa estar a serviço da economia. A escola, portanto reduziu-se ao meros rudimentos da leitura, escrita e cálculos matemáticos simples. Com as recentes normativas a escola precisa cuidar preponderantemente do comportamento, do socioafetivo dos alunos. Aliás os conteúdos socioafetivos que já estavam implícitos nos currículos escolares como o aprender a conviver, aprender a ser, hoje escancara tanto normatizado pela BNCC como discurso efervescente na elaboração do pós covid-19. Atualmente, o mais importante na educação escolar é o trato da saúde mental dos alunos e dos professores, ao menos no campo do discurso, já que no campo da prática o que temos é a culpabilização do professor e da escola pelo baixo rendimento dos alunos nas provas internacionais/externas, numa escola que prepara exclusivamente para o mercado (nem mais o do trabalho, mas o do desemprego), a escola que um dia afirmou preparar para o trabalho, atualmente se mostra claramente preparando para ocupar uma fila de desempregados, os que alcançam um posto de trabalho, são os que furam a bolha, ou os que advém de classes num estrato dr exploração diferenciada. Aos demais a sorte se lança sob a alcunha de empreendedorismo. Numa classe tão alijada das necessidades imediatas a questão que se coloca, para além da falta de conhecimentos científicos dos quais ficarão à margem é empreender a partir do quê? Quais instrumentos terão para tanto? É um salve-se quem puder, ou como dito na atualidade: "vocês que lutem!"

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

POR QUE DEVEMOS PRIVILEGIAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO CLÁSSICO NUMA SOCIEDADE DE CLASSES?


 A sociedade de classe surgiu simultânea à propriedade privada, lógico que nem sempre apresentou o formato contemporâneo, todavia, desde sempre privilegia uns em detrimento de outros. O que se pode concluir, portanto, é que nesta sociedade toda substância, física ou não, ganha status de mercadoria, basta que seja possível produzir lucro a partir dela. Com o conhecimento científico não é diferente. Logo, enquanto existirem sociedades de classes e o conhecimento for a base de sustentação da classe em domínio é fundamental que a classe trabalhadora tenha acesso a tais conhecimentos, a fim de elevá-la ao mesmo nível de domínio científico, intelectual e cultural, que em todas as medidas a subjuga. Entendo que tais conhecimentos sejam armas de luta de manutenção da classe no poder, que dominam os códigos, leis da natureza, desenvolvimento humano ao longo de toda evolução social, compreende processos psicológicos que libertam e/ou subjugam homens (gênero humano). Há porém quem afirme que estes conhecimentos sejam aculturamento da classe trabalhadora, uma vez que esta classe já possui cultura própria e que, portanto o conhecimento clássico, em sua maioria vindo de países europeus sejam invasores na vida daqueles que vivem do trabalho. Concordaria com tal afirmativa não fossem alguns destes conhecimentos científicos parte do avanço de humanização do homem (aqui homem sempre será usado como gênero humano), tal como o conhecimento que inventou o fogo, a roda, a medicina, os cálculos, a orientação geográfica, a compreensão do homem como um sujeito que sente, pensa... Conhecimentos estes elaborados por povos originários, e que são estes os conhecimentos que vêm sendo negados, secundarizados, uma vez  que foram alçados ao status de mercadoria e, consequentemente propriedade privada de um grupo seleto e minúsculo que inclusive determina o que se pode ensinar e até onde ensinar aos filhos da classe que vive do trabalho. Precisamos criar uma linha que apresente os limites e possibilidades dos conhecimentos populares, muitos deles, ou a sua maioria, contribuindo apenas para a manutenção da vida (ou seja, apenas para sobreviver), e reivindicarmos os clássicos, claro que nem todo clássico, mas os que promovem desenvolvimento, avanço e com isso eleva o processo de humanização e emancipação dos sujeitos. Estes conhecimentos científicos, muitos descobertos por povos nativos ainda que aperfeiçoados pelos avanços sociais e tecnológicos, ampliaram e agilizaram a forma de conhecer e de se colocar no mundo, e que, por isso mesmo, todo conhecimento deve ser dado por direito a todos os homens sem distinção e com o máximo de qualidade e em toda amplitude possível, para que assim, de posse destes conhecimentos, que humanizam, promovem consciência social, humana, que possibilitam qualidade de vida a todos os homens e que estes possam pensar em alternativas de vida que privilegiem o maior número possível dos seres viventes.