Esse texto inicia com uma pergunta feita por uma amiga leitora no texto anterior Em que medida a escola pode ser espaço contra hegemônico? Como construir isso no cotidiano escolar? Como indivíduos tão imersos e subjugados à essa lógica e que se desumanizam no desempenho das suas atividades podem se transformar em sujeitos coletivos e insurgentes? Responder essas questões não é tarefa fácil e tampouco definitiva, sobretudo por entender a educação, enquanto instituição, como um projeto burguês cuja algumas das finalidades seja de manter a ordem social estabelecida. Diante disso, pensar uma educação contra hegemônica só é possível se pensarmos na formação do professor com vistas a emancipação humana, levando em conta a formação para o domínio dos conhecimentos historicamente produzidos, inclusive nesta sociedade. É, pois nesse aspecto então que esbarramos com a realidade que está posta. Uma vez que a formação do professor no Brasil e na maioria dos países periféricos do capital se dá de forma a atender as expectativas do mesmo, não a toa as reformas educacionais ao longo dos anos impele os professores a formação comportamental e emocional do aluno, enquanto indivíduo, ignorando a formação social para o desenvolvimento na e para a sociedade. É preciso lembrar que para os defensores duma educação transformadora, os avanços dela se dá mediante a formação plena dos indivíduos para a vida em sociedade, seja no que diz respeito aos clássicos científicos, e por clássicos se entende aquilo que está em pleno vigor na atualidade, logo o que não foi superado, não foi substituído, seja nas concepções de relações sociais humanas, artísticas da natureza... Vale atentar ainda para a triste e violenta realidade de que a formação do professor, que tal qual a formação do aluno, também vem seguindo a lógica das competências emocionais, sob a bandeira da resiliência, um canto da sereia, como diz o professor Newton Duarte, para aprisionar professores na ideia de que seus fracassos ou "sucessos" sejam frutos da capacidade, ou falta dela, de se reinventarem. Isso posto, em que medida podemos construir essa escola contra hegemônica? Primeiro apontando as contradições do próprio sistema, suas lacunas, suas falsificações, ainda assim não se apresenta tarefa fácil. É urgente, todavia provocar a consciência dos professores para o sonho que a educação burguesa vem tentando vender ao longo de décadas e que não apresenta qualquer possibilidade de realizar-se, o sonho do pleno emprego, o sonho de que a educação pode abrir as portas para um futuro promissor, de que a escola pode sozinha resolver questões sociais e econômicas. São nessas falsificações que a proposta de escola contra hegemônica precisa ser pensada, uma vez que ao longo de séculos a escola burguesa atuou com papel de exclusão fundamental, mantendo a lógica perversa de formar mão-de-obra barata, descartável e em grande escala, promovendo o exército industrial de reserva. É urgente portanto construir na massa de trabalhadores da educação a noção de que a lógica dominante para a educação não coaduna com o projeto educacional do qual os educadores defendem, mesmo o professor que, porventura tenha tido a mais rasa ou frágil formação, tem por certo que a escola precisa preparar o sujeito para conhecer a si e ao mundo, no entanto, é o conceito de mundo que vem sendo negado não só aos estudantes, como aos professores que os formam, limitando o conceito universal para local, definindo que o sujeito precisa apenas dominar aquilo que lhe é próprio, do seu espaço, seu ambiente, dificultando, com isso que esses sujeitos rompam com o senso comum e ascendam à consciência filosófica. Portanto, só se constrói uma educação contra hegemônica, se se dispõe a romper com a lógica burguesa dominante. E o papel da escola nesse sentido é formar a classe trabalhadora nas bases científicas, históricas, humanas, artísticas e sociais. Rebelar-se contra esse projeto nefasto de educação é preciso, e já!