"No Brasil, há uma preocupação particular com o crescimento da formação docente a distância. Apesar de a lei estabelecer que a FID* deve
ser preferencialmente presencial, a modalidade a distância vem se expandido de forma notável nos últimos anos e atualmente quase 40% dos jovens que estudam cursos superiores de magistério estão matriculados
em programas de educação a distância." (Profissão
Professor na América Latina Por que a docência perdeu prestígio
e como recuperá-lo?) O trecho que inicia essa reflexão tem por objetivo discutir políticas para a formação do professor na América Latina, e toma por análise a falta de qualidade na educação nesses países e em especial no Brasil. A discussão desenvolvida no referido trabalho atribui a má qualidade da educação tanto a falta de valorização financeira dos professores quanto ao despreparo acadêmico destes e a falta de vocação. Embora os autores citem, descompromissadamente, a formação desses profissionais na modalidade à distância, não levam em conta que a maior parte das matrículas nos cursos de formação de professores se dá nas instituições privadas e sobretudo, nessa modalidade a distância. É importante trazer a reflexão que a maioria dos profissionais formados pelas universidades públicas, os quais se debruçam em pesquisas e aprofundam tanto no que diz respeito a função social da educação, quanto aos conteúdos específicos do fazer docente, optam em seguir carreira de pesquisas, ou fora das salas de aula. Essa opção se dá mais pelo engessamento da prática educativa, determinada pelos organismos internacionais, como o BID, por exemplo, que financia, o livro aqui citado, e que é avalizada, legitimada e legalizada pelas esferas públicas educacionais, que puramente pela falta de valorização econômica. Ou seja, no chão da escola a desvalorização do esvaziamento pedagógico é, infinitamente maior que o financeiro. Não se pode desconsiderar que, no tocante as demais carreiras cujo nível de formação seja o mesmo, a valorização salarial seja mais que o dobro em relação aos professores, no entanto a falta de autonomia no trabalho, o distanciamento do que seja a função social da educação e o que concretamente se realiza no chão da escola, traz impactos irreconciliáveis, tanto no professor, que perde a identificação com suas funções, quanto para os alunos, ao observarem que as escolas apenas reforçam o que eles já têm em estágio sincrético, e que apenas será reforçada a síncrese, sem que lhes seja apresentado os caminhos para a síntese (como propõe o professor Dermeval Saviani). A sociedade que, ao observar a não diferenciação da escola para os demais espaços de convivência, acaba por considerá-la depósito de crianças e adolescentes com vistas a certificação. Se a escola, portanto, não recuperar, o quanto antes suas funções próprias, qual seja: "elevar o sujeito do senso comum à consciência filosófica" (Saviani), o professor, sujeito de domínio dos conteúdos capazes de promoverem tal consciência, continuará sendo visto como um membro da família, que inclusive precisa ser grato por 'ter a chance de cuidar dos sobrinhos', e que por isso, precisam "trabalhar por amor", apresentar apenas aquilo que dê prazer ao aluno, aquilo que não o invada. E , ainda, para se entender o que pretende essa análise, lembrem que as avaliações internacionais/externas, tomam por base as ciências (conhecimentos historicamente produzidos socialmente), como a escola pública, ou em alguma medida, a privada que atende ao filho da classe trabalhadora, apenas promovem o cotidiano da criança, não é de estranhar que apenas as escolas mais elitizada tenham desemprenho ideal. Um ponto importante neste diálogo é que parte dos professores que atuam na rede pública, também o fazem nas privadas que alcançam bom desempenho, conclui-se, portanto que o problema, não seja apenas a formação deste trabalhador, e também, e principalmente a autonomia que o mesmo não tem para desenvolver seu trabalho. Ressalto, contudo, que na esfera privada a autonomia está exclusivamente ligada ao que tange a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos, e se limitando aí, o que, no caso do professor da escola pública essa relação se inverte, nenhuma autonomia para trabalhar conteúdos, e mais autonomia para demais atuações. É importante estarmos atento então para o que está posto nessa retórica de má formação, ou de incapacidade profissional ou ainda de falta de "vocação", uma alegação rasteira, que carrega em si todas as contradições possíveis e que tem por mote privatizar e, em alguns casos, terceirizar tais profissionais, alegando maiores salários na base da meritocracia que usurpa de forma substancial todos os direitos conquistados sob muita luta. Direitos como; piso salarial nacional, já em debate para sua extinção, reserva de 1/3 da carga horária para planejamento, férias e recesso escolar, estão sob o risco de serem substituídos por gratificações por desempenho. Com a meritocracia e salários vinculados a avaliação de um suposto desempenho, esses direitos serão retirados, sutilmente, utilizando-se o discurso de que merece ganhar mais quem tem "melhor" desempenho. E assim se destrói direitos coletivos, implementasse valorização seletiva e individual, cria-se competição no espaço de trabalho, dificultando a organização da luta em defesa de direitos, e como resultado, adoecimento e precarização da profissão e , em alguma medida, na qualidade da formação dos estudantes. É preciso estarmos atento. Não há, em toda a história da humanidade, vitória para o trabalhador que não tenha sido resultado de luta do próprio trabalhador organizado.
*FID - Formação Inicial Docente