É preciso investigar o que se esconde por trás desta afirmativa aparentemente ingênua. Porque é mais importante uma felicidade abstrata, produzida pela escola, lugar de tensões, sobretudo pelo relacionamento entre os diferentes (e isso é o mais positivo que a escola tem), que a apropriação de conhecimentos clássicos, históricos e que ainda não foram refutados? O que seria felicidade para um estudante? Brincar, conversar? Numa sala com 25 alunos (há salas com 60), todos gostam da mesma brincadeira e são felizes com todas as propostas brincantes? As novas propostas de educação para a escola de fundamental propaladas por organismos internacionais seduzem aos pais, pois é uma proposta de fazer com que seus filhos sejam felizes no futuro, ante ao cenário de desemprego que se desenha no presente. Tais propostas educativas para a promoção da emoção e da felicidade propagam que os (des)empregos do futuro não necessitarão de formação acadêmica, logo, as crianças não precisam ser "sacrificadas" com acúmulo de conhecimentos hoje, bastam aprender a ser resilientes, ou seja, reconstruir-se a partir do nada, empreender-se com os parcos recursos que (não) têm! E, caso precisem conhecer algo, basta pesquisar nas redes (chat Gpt). A escola fundamental hoje precisa cimentar o caminho para a aceitação do Novo Ensino Médio, pois se na educação inicial (fundamental) se propõe estudar para as emoções, caberá ao Ensino Médio manter tal estrutura, e portanto, apenas projeto de vida, que poderíamos chamar de projeto de reprodução da precária existência, dará conta de atender adolescentes que chegarão neste nível sem qualquer elemento científico, seja da matemática, da língua portuguesa, história, geografia ou ciências da natureza, para prosseguir em tais estudos. Vale afirmar que as escolas privadas da elite (escola privada da classe trabalhadora está sob a mesma lógica da escola pública), continuará reivindicando, se apropriando e brigando pelos conhecimentos clássicos, pertencerá a ela (e já pertence) o domínio e difusão das ciências clássicas.
A escola, portanto, que em certa época fora julgada por preparar estudantes para o trabalho, hoje é aplaudida e ansiada para prepará-los para o desemprego. O papel do conhecimento clássico para nós que os defendemos como instrumentalização dos sujeitos, não é prepará-los para a universidade, para o trabalho, e sim, conceder-lhes conhecimento suficiente para compreender as bases de sustentação da sociedade em que se vive.
Firmim, teórico haitiano que refutou Gobineau sobre a teoria da supremacia branca, só o fez por dominar as bases teórico-metodológicas e intelectivas do racista francês. Se o haitiano não dominasse os conhecimentos clássicos a teoria gobineana de superioridade do branco sobre o negro, amplamente divulgada, aceita e usada, inclusive no Brasil teria se firmado por muitos anos, sob uma ótica científica. É preciso se perguntar por que há tanto interesse em desqualificar conhecimentos históricos e negá-los aos nossos filhos, sob discursos que nos convence inclusive de abrir mão de tais conhecimentos. Retirar da escola os conhecimentos clássicos nos torna reféns de teorias que, pela falta das bases teóricas nos impelem a aceitá-las reproduzi-las e com isso nos desumanizamos.
O papel da educação, portanto, não deve ser de prever o futuro, de como serão as novas formas de trabalho, mas de tentar garantir humanização e participação social, a partir do que se tem no presente. Sem conhecimento da estrutura na qual se organiza a sociedade e o Estado, o aluno/sujeito social, estará alijado das discussões que determinam sua própria vida. À escola cabe, sobretudo, não abrir mão de socializar conhecimentos clássicos que fundamentam a vida desde sempre. Logo, faz-se urgente, exigir que tenhamos o mais rico conhecimento já desenvolvido até os dias atuais, não podemos abrir mão de dominar o que os dominadores dominam, sob o risco de sermos mais uma vez escravizados pelo desconhecimento, pela ignorância. Conhecimento é poder! E quem sabe disso quer negá-lo a nós!